Theresa Révay – As Luzes Brancas de Paris, mais uma tradução de título que não compreendo, o título original é “La Louve blanche”, confesso que o meu francês é fraquinho mas acho que significa “o Lobo branco” que é geralmente associado à Rússia mas, posso estar enganada, se estiver é favor dizerem aqui em baixo o que significa, de qualquer maneira não entendo o porquê de ser traduzido para as Luzes brancas de Paris uma vez que apesar de parte do livro se passar em Paris não se passa todo lá e a cidade não é importantíssima na história, de qualquer maneira é um título chamativo.
Depois o livro é muito mais do que um romance é um óptimo livro histórico, os factos estão correctos e a perspectiva em que são contados é absolutamente fascinante. É um livro que retrata a primeira e a segunda guerra de uma forma intensa, humana e sem contornar as questões polémicas. Foi uma leitura absolutamente maravilhosa mas, não aconselho a quem não gosta de questões históricas porque os factos históricos são muito importantes no livro.
É um livro que nos relembra como é fácil cair no exagero quando o povo está descontente e o país em crise, como as pessoas têm a capacidade de regredir e cometer as maiores atrocidades porque seguem um líder errado. Acho que muitas vezes nos esquecemos que quando o Hitler apareceu ninguém dava nada por ele e que foi o povo que o elegeu, o povo que acreditou naquele monte de mentiras e barbaridades e que ainda há por este mundo muito quem pense como ele.
O que mais me fascinou neste livro é que a história é contada pela perspectiva de várias personagens em vários pontos da Europa e mostra de forma fiel o que muitas daquelas pessoas pensavam na altura, vou transcrever uma das conversas que me deixou fascinada.
“Sem compreender muito bem onde queria chegar Lindner, Max não pôde deixar de pensar na irmã Marietta “Junto dele, não me entedio…”, dissera ela quando lhe perguntou o que lhe agradava no odioso oportunista com quem acabara por casar. Actualmente, Marietta brilhava nas recepções mundanas, recebia várias vezes por mês na sua residência, não muito longe da casa dos Lindner, gastava sem olhar a despesas. Aos olhos de todos, era a elegante e exuberante mulher de um homem poderoso que não escondia as suas opiniões politicas nacionalistas e anti-semitas.
- Que o leva a falar assim? – insistiu Max.
- A eleição do marechal Hindenburg para a presidência foi uma advertência. Esse velho influenciável representa as forças obscuras deste país, que fervilha de ressentimentos. É um militarista e um monárquico convicto. Uma ameaça séria para uma republica que nunca digeriu. Não se esqueça de que recuperou a virgindade em 1919, ao defender a ideia da “punhalada nas costas”. Infelizmente, somos uma república sem republicanos. Os comunistas querem uma república esvaziada de sentido, e as direitas nacionalistas o regresso do Kaiser e o fim da chamada “dominação judia”. Há dias, num jantar, conversei sobre o assunto com Stresemann. O nosso ministro dos negócios estrangeiros fez o que pôde para evitar esta eleição. Em vão.
Enxugou a testa, suspirando. Respeitosamente, Max deixou-o prosseguir.
- Também acabo de ler um livro que devia ser manuseado com pinças, tanto ódio e fanatismo deixa transparecer. O partido Nacional-Socialista tinha sito proibido mas foi legalizado em Fevereiro, e fiquei gelado ao ler a propaganda desse miserável agitador que é Adolfo Hitler. Condenado a cinco anos de prisão, foi libertado ao cabo de alguns meses. As suas propostas são angustiantes para quem souber ler nas entrelinhas.
- Não me diga que acredita que esse indivíduo possa exercer alguma influência? Os alemães não se deixarão ludibriar por tão grotesca personagem. Trata-se de um miserável cabo austríaco que se agita como um fantoche.
Lindner inclinou a cabeça para trás. Através da folhagem, o sol incidia-lhe no rosto.
- O homem decidiu combater a nossa república com as suas próprias armas, de forma legal, em vez de conquistar o país pela força. Nem ele nem os seus acólitos procuram disfarçar. Um dos meus amigos ouviu-o discursar em Munique, há três anos. É um demagogo e um orador temível. Lembre-se dos gregos. A eloquência é um talento e ao mesmo tempo uma arma.
- Com certeza, mas os gregos eram democratas.”
Nota: 4/5
Sinopse:
Os ventos da história, a força do amor. Xénia era ainda uma criança quando assistiu à morte do pai, um aristocrata russo. Obrigada ao exílio faz-se mulher pela dureza das circunstâncias, exilando-se em Paris com os irmãos. Na capital francesa cruza-se com um jovem e talentoso artista alemão. Enquanto ela tenta vingar no mundo da moda parisiense, Max assiste impotente à ascensão de Hitler ao poder. Entre guerras e revoluções a sua história de amor parece condenada. Ou será que mesmo em tempos de guerra se podem viver uma grande história de amor? Um apaixonante romance histórico a fazer-nos viajar aos loucos anos 20/30, num envolvente fresco de época.
Xénia Ossoline era uma linda e mimada menina russa. Com o eclodir dos primeiros tumultos da Revolução, o seu pai é assassinada e Xénia obrigada a fugir com os irmãos para Paris. Dos sangrentos dias vividos em São Petersburgo aos loucos anos 20 em Paris, Xénia faz-se uma mulher forte e decidida, mas não preparada para amar. Quando conhece Max, um artista alemão que acabará por ver todos os seus amigos destruídos pelos nazis, Xénia não estava preparada para se deixar levar por esse amor que a arrebatava (e assustava). Poderá a sua história de amor sobreviver a tão conturbados dias?
Seguindo o percurso de Xénia e Max conhecemos (do lado de dentro) os conflitos que marcaram a história da Europa. Um poderoso romance a lembrar clássicos como «E Tudo o Vento Levou».
XOXO S.